Júpiter em fúria fixado no tempo...
Suave e surdinamente segue a Cassini rasgando as órbitas dos corpos celestes em direcção ao lorde dos anéis. No seu percurso celestial depara-se com o imponente corpo joviano, o filho do pai despiedoso e sanguinolento com receio de perder o trono... Cassini rende-se ao belo matizado de cores que percorrem a atmosfera do planeta. Fixa então no tempo uma imagem que irrompe brutalmente pelos nossos olhos. Uma infernal tempestade de nuvens que mingua as terrestres. Tempestades nada comparáveis às do fogo-de-Santelmo descritos nos Lusíadas. Sob aquelas nuvens pacientes fixas no tempo, existe uma fúria imensa de relâmpagos; Júpiter brinca a seu bel-prazer com os relâmpagos que os Cíclopes lhes entregaram como agradecimento pela sua libertação. Aquelas ovais brancas, o enorme "olho" avermelhado que há mais de 300 anos perdura para perturbar os espíritos, engolindo tudo em seu redor, são apenas amostras das "faces" de Júpiter. Cassini estremece com a fúria do "olho" de mil furacões. Mas... e, num silêncio, a sonda continua o seu caminho... e apressa-se agora velozmente como uma criança curiosa que quer aprender tudo num fôlego. Para apreciar todos os pormenores intrincados da atmosfera matizada de Júpiter, VALE MESMO A PENA deleitar-se com esta imagem http://apod.gsfc.nasa.gov/apod/image/0311/jupiterp_cassini_full.jpg . Magníficas visões portentosas deste grandioso planeta! Que autênticos redemoinhos, que perfeitas ovais, e aquela tempestade louca que dura pelo menos há 300 anos como nos parece tão eterna. E aquela fúria imensa de pequenas tempestades que se emaranham e querem misturar-se com a grande mancha. Uma nova e impressionante imagem do planeta. Uma imagem para a história! Um abraço universal, JMA
"Pisando o cristalino Céu fermoso"
Enceto um relato da observação de uma dessas noites ocorrida em Pulo do Lobo (15 km a Sul de Serpa) com uma frase dos Lusíadas do grande Camões: "Pisando o cristalino Céu fermoso" (Canto I, 20ª estrofe, verso 5). Obviamente que não somos nenhuns deuses que se vão congregar num consílio :), mas esta maravilhosa frase camoniana, ilustra um pouco aquele céu! Um céu cristalino e irrepreensível. A minha pessoa e dois amigos fomos presenteados com um soberbo céu. Daqueles de fazer enaltecer o espírito humano. Se Camões estivesse connosco certamente que iria incluir este local na sua obra!!! ;) Disse aos meus amigos presentes nessa noite: "Aquela tiara celeste - Via Láctea - a abraçar a Terra é algo que devemos preservar!". Quem me dera ter ali uma toalha, estender-me no chão e olhar só para a espinha dorsal da noite, para as estrelas. Mergulhar nelas, imbuir-me nelas. É uma coisa maravilhosa, e lembrar na 9ª sinfonia de Beethoven que canta sobre isso. Corram, corram irmãos para os céus. E aquela música monumental e imponente faz vibrar qualquer um. Uma música a incitar à liberdade, à alegria, à união dos irmãos de todos os povos. Aquele campo da Puppis parecia o que Camões nas suas palavras usa na sua obra-prima: "estelífero pólo". Uma região densa de estrelas. Foi verdadeiramente uma loucura olhar pela ocular e ver aquele campo preenchido integralmente por inúmeras estrelas. Nunca tinha visto uma tão grande densidade de estrelas no campo de visão da ocular. É algo verdadeiramente assombroso e inspirador. Ficámos abismados e delirados por tal beleza estonteante do que víamos em Puppis! Ver aquele M93 rodeado por uma miríade de estrelas é uma coisa que qualquer astrónomo amador que se preze tem de ver!!! Estive a ver a imagem do livro "Observar o céu profundo" do Guilherme de Almeida e Pedro Ré e posso dizer-vos que a imagem ficou muito aquém daquilo que vimos!!! (não estou a tirar algum mérito aos autores! pelo contrário.) Não verão aquilo que vimos numa fotografia!!! É para ser visto em céus escuros como o do Pulo do Lobo, e em noites com transparência irrepreensível! E que dizer da galáxia NGC 4565 localizada na Coma Berenices??? Uma galáxia vista de lado com um diâmetro aparente considerável do seu plano. Uma outra visão portentosa! E aquele trio de galáxias em Leo M65 / M66 / NGC 3628 a desenhar um triângulo rectângulo parecia-me um exemplo perfeito de geometria euclidiana. :) Majestosos objectos de luz que parecem ser os reis do Universo. Outro exemplo de um trio, mas desta feita em triângulo escaleno tínhamos M95 / M96 / M105. M95 é uma das mais belas galáxias que pode ser apreciada com a sua espiral barrada. A companhia excelente, bons instrumentos de amplificação acompanhados de um céu fabuloso fizeram uma grande noite de observação, das melhores que tive! E a mais proveitosa até ao momento já que vi mais de 40 objectos o que é considerável dado que perdemos também algum tempo a procurá-los e anotá-los. E ainda mais o facto de estar a acompanhar a Mintron de um dos amigos que é uma câmara de grande nível a filmar em tempo real as nebulosas, galáxias, entre outros. Captou a imagem da famosa Nebulosa do Cavalo! Da Nebulosa do Caranguejo (da famosa supernova que explodiu em 1054 vista por inúmeros povos e sendo poucos os que realmente compreenderam o que viram) da qual tive a melhor observação até hoje. Do facto de ter conseguido ver os três braços da espiral M83!!!! Loucura, só loucuras!!!!! :))) Magnífico, mirífico, egrégio, ínclito, tantos adjectivos que nada parecem significar face ao que senti, observei, vivenciei nessa noite rutilante! Um abraço, JMA
Estaremos condenados a mais despromoções?
Como muito bem dizia o saudoso Carl Sagan, nós, humanos, temos vindo a ser despromovidos. Se não vejamos: julgávamos que a Terra se localizava no centro do Sistema Solar e do Universo. Que presunção! Mau grado, soubemos que a concepção geocêntrica não correspondia à realidade. No entanto, ainda hoje essa concepção verifica-se na astrologia! Com Copérnico, estabeleceu-se a teoria heliocêntrica, ou seja, a Terra tinha perdido o ceptro do Universo, tendo-o transferido para o Sol. Mas então mesmo quando se pensava que o Sol estaria imóvel no centro do Universo, veio a descobrir-se que o Sol se deslocava em torno do centro da Via Láctea (quer para Norte do plano galáctico quer para Sul desse plano! a ondular como se de uma onda tratasse ao sabor do mar galáctico). Bem, ao menos, os humanos podem contentar-se com o facto de estarem situados numa galáxia relativamente grande em comparação com as restantes do Grupo Local sendo suplantada apenas pela Galáxia de Andrómeda. Mais tarde, verificou-se que afinal não existe centro do Universo! (ou a existir, teria de ser exterior ao Universo!) A par destas despromoções ao nível da posição da Terra e Sol em relação ao Universo, também uma outra se tem verificado. O lugar do Homem na Vida. Quando Darwin, com a "Origem das espécies", afirmou que os seres humanos descendiam de antepassados comuns aos macacos, cedo surgiram caricaturas sarcásticas da pessoa de Darwin. Na realidade, as pessoas que se diziam ilustres interpretaram mal a teoria de Darwin. Em abono da verdade, os humanos não descendem dos actuais macacos, como julgavam essas pessoas "ilustres". O Homem descende de um antepassado comum aos actuais macacos. De toda a maneira, o Homem viu a sua posição na evolução abalada... É muitas vezes dito que o Homem é o pináculo da evolução. Tal sucede, devido a uma visão estreita do conceito de evolução. Os verdadeiros herós da evolução não são os humanos, antes os microorganismos! Existem desde o início da Vida na Terra e também vivem dentro de nós, humanos! Aliás o Homem também é feito de microorganismos, assim como é rodeado por estes. Mais um rude golpe, na vaidade do Homem! O Homem ao ter-se confrontado com estas "más" notícias, virou-se para o espaço e interrogou-se: "Haverá Vida no espaço? Ou seremos os únicos?". Temo, na minha humilde opinião, que é melhor o Homem preparar-se para outra despromoção! E talvez a que terá maior impacto no seu lugar na Vida do Universo. Mas não há que sentir vergonha perante as sucessivas despromoções. Antes, devemos manter uma postura de humildade sob pena de sofrermos uma humilhação ainda maior. E a questão continua: Estaremos condenados a mais despromoções? Um abraço, JMA
O som primevo do Universo
Que estranheza. Terá sido realmente este o primeiro som do Universo? Um som tão banal, mas tão significativo para nós. Provavelmente o som que deu vida a todos nós... http://www.npl.washington.edu/AV/BigBangSound_2.wav Não foi um estrondo mas um murmúrio... ouçam! E depois outros novos sons foram sendo criados à medida que a seta do tempo seguia o seu rumo. Sons que, nós humanos, quisemos partilhar com o Universo enviando no disco de ouro a bordo das famosas sondas Voyager! Bach, Brandenburg Concerto No. 2 in F. First Movement, Munich Bach Orchestra, Karl Richter, conductor. 4:40 Java, court gamelan, "Kinds of Flowers," recorded by Robert Brown. 4:43 Senegal, percussion, recorded by Charles Duvelle. 2:08 Zaire, Pygmy girls' initiation song, recorded by Colin Turnbull. 0:56 Australia, Aborigine songs, "Morning Star" and "Devil Bird," recorded by Sandra LeBrun Holmes. 1:26 Mexico, "El Cascabel," performed by Lorenzo Barcelata and the Mariachi México. 3:14 "Johnny B. Goode," written and performed by Chuck Berry. 2:38 New Guinea, men's house song, recorded by Robert MacLennan. 1:20 Japan, shakuhachi, "Tsuru No Sugomori" ("Crane's Nest,") performed by Goro Yamaguchi. 4:51 Bach, "Gavotte en rondeaux" from the Partita No. 3 in E major for Violin, performed by Arthur Grumiaux. 2:55 Mozart, The Magic Flute, Queen of the Night aria, no. 14. Edda Moser, soprano. Bavarian State Opera, Munich, Wolfgang Sawallisch, conductor. 2:55 Georgian S.S.R., chorus, "Tchakrulo," collected by Radio Moscow. 2:18 Peru, panpipes and drum, collected by Casa de la Cultura, Lima. 0:52 "Melancholy Blues," performed by Louis Armstrong and his Hot Seven. 3:05 Azerbaijan S.S.R., bagpipes, recorded by Radio Moscow. 2:30 Stravinsky, Rite of Spring, Sacrificial Dance, Columbia Symphony Orchestra, Igor Stravinsky, conductor. 4:35 Bach, The Well-Tempered Clavier, Book 2, Prelude and Fugue in C, No.1. Glenn Gould, piano. 4:48 Beethoven, Fifth Symphony, First Movement, the Philharmonia Orchestra, Otto Klemperer, conductor. 7:20 Bulgaria, "Izlel je Delyo Hagdutin," sung by Valya Balkanska. 4:59 Navajo Indians, Night Chant, recorded by Willard Rhodes. 0:57 Holborne, Paueans, Galliards, Almains and Other Short Aeirs, "The Fairie Round," performed by David Munrow and the Early Music Consort of London. 1:17 Solomon Islands, panpipes, collected by the Solomon Islands Broadcasting Service. 1:12 Peru, wedding song, recorded by John Cohen. 0:38 China, ch'in, "Flowing Streams," performed by Kuan P'ing-hu. 7:37 India, raga, "Jaat Kahan Ho," sung by Surshri Kesar Bai Kerkar. 3:30 "Dark Was the Night," written and performed by Blind Willie Johnson. 3:15 Beethoven, String Quartet No. 13 in B flat, Opus 130, Cavatina, performed by Budapest String Quartet. 6:37 São músicas eternas, universais as que demandam juntamente com a sonda à procura de um Ser que ouça, que sinta a beleza sonora criada pelos humanos. Como a partir de um som e o engenho humano se pode encantar o Universo! Um último som humano, o seu registo... quando tudo o que conhecermos desaparecer. Parece irreal, mas não se trata de fantasias. É o Universo a seguir o seu rumo. Como terminará o Universo se é que alguma vez isso vá suceder?... Um abraço, JMA